quinta-feira, 24 de novembro de 2011

LEVADA PELO VENTO

Moro no oitavo andar de um edifício, com vista aberta para a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O resultado é que em minha janela o vento sopra de todos os lados, vindo direto do mar, e é capaz dos maiores malabarismos. Era um fim de dia, o entardecer colorindo o céu em tons de lilás, e eu estava na janela, apenas apreciando a paisagem, desfrutando um pouco da poesia do momento. Foi quando vi uma folhinha se desprender de uma árvore.
Era de se esperar o que iria acontecer: a folha despencaria e desceria em queda livre ate o chão. É o natural. É o que faz a lei da gravidade. Mas, para minha surpresa, a folha não desceu: ela subiu. Ventos ascendentes se apoderaram daquela folhinha, que captou meu olhar e a fez subir num balé ilógico. E mais: a folha subiu numa disparada, a uma altura extremamente elevada, até que…
O vento parou.
E a folha começou a cair, em movimentos de idas e vindas para os lados, em direção ao chão.  Dessa vez não havia nada de vertiginoso, apenas uma queda suave. E assim a folhinha foi descendo, bem devagar…. prum lado … pro outro… prum lado…. pro outro…
Quando estava para chegar ao solo, já com minha atenção quase desviada dela e voltada para a beleza do entardecer, veio uma nova lufada de vento, que mudou totalmente os rumos do previsível. Em vez de tocar o chão e ali ficar, a folha disparou verticalmente rumo ao céu, em rodopios frenéticos, lançada de um lado a outro e… dobrou a quina do meu prédio. Quando menos esperava perdi de vista a folhinha.
Aquela folhinha me fez pensar sobre a vida do cristão. Há um caminho natural a seguir, graças a forças da gravidade espirituais. Esse caminho na vida do crente em Jesus é o Céu, a eternidade junto ao Pai. Mas, sem que esperemos, de repente ocorrem imprevistos em nossa jornada que nos lançam a toda força na direção contrária. Somos cirandados, lançados de um lado para o outro, tragédias acontecem sem aviso ou controle e quando menos esperamos nos vemos envolvidos em situações e problemas que nos afastam do caminho natural do cristão.
Mas, tão de repente como esses problemas e imprevistos surgem, Deus pode fazer com que desapareçam, encaminhando seus filhos novamente numa trajetória suave e embalada rumo à glória e à paz celestiais. Uma caminhada calma. Sem  sobressaltos. Que de tão tranquila pode até desviar nossos olhos para outros aspectos da vida.
Mas no Reino de Deus imprevistos são algo bem comum. E quando achamos que tudo está em paz vem o turbilhão e nos lança num vendaval de pecado, dúvidas, falta de fé, frieza espiritual ou materialismo e, se não tomarmos cuidado, seremos levados até desaparecermos em alguma esquina da alma. E, então, só Deus sabe o que pode ocorrer e onde podemos parar.
Naquele dia eu olhava pela janela enquanto esperava minha esposa terminar de se arrumar para irmos a um compromisso. Não demorou muito, ela chegou e seguimos, a folhinha completamente esquecida das minhas
atenções. Fechei a janela, pegamos o elevador e ganhamos a rua. Enquanto minha esposa fazia sinal para um táxi, algo captou meu olhar.
Era a folhinha.
Eu a reconheci pelo formato e as cores – era ela, sem dúvida. E estava pousada no chão, quietinha, plácida, em paz, num lugar qualquer da calçada. Eu sorri.
Enquanto o táxi se afastava, eu pensava que, por mais que os ventos soprem e lancem o cristão de um lado para o outro, desafiem a lógica, criem situações complicadas e a sensação seja como a de uma indefesa folhinha perdida no meio do vendaval descontrolado da vida, mais cedo ou mais tarde Deus dará um jeito de fazer tudo se acalmar e a paz voltará a reinar.
E a folhinha?
Encontrará seu repouso no exato lugar em que Deus queria que ela repousasse desde o início.

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