sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

DE PSICÓLOGO A GARI

Soube recentemente de um psicólogo que “virou” gari durante oito anos e varreu as ruas da maior universidade do país para concluir sua tese de mestrado sobre “invisibilidade pública”. Em suas observações constatou que a maioria dos trabalhadores braçais são “seres invisíveis”, ou seja, a percepção humana do outro não os alcança. Sua existência foi ignorada pelos seus amigos e professores, que esbarravam por ele, sem se desculpar, como se tivessem esbarrado num poste, pois não o “viam”. Uma vez precisou entrar no prédio onde estudava, com uniforme de gari, passou na frente de todos seus conhecidos, mas ninguém o enxergou. Ficou atordoado pela sua “não existência”, e chorava quando voltava para o seu mundo real. Descobriu que um simples “bom dia”, que nunca recebeu como gari, pode representar uma lufada de vida e de esperança na vida de uma pessoa. Confesso que a experiência desse homem tocou em minha alma, pois me levou a enxergar minhas doenças sociais. Também sou igual aos seus professores e amigos, que têm um olhar seletivo. Mas com um agravante: sou um homem de fé (que seguramente tem muito a aprender). er ignorado talvez seja a pior sensação que existe para um ser humano. Não é o ódio o contrário do amor, mas a indiferença. Nossos olhos estão acostumados a enxergar o belo, a valorizar o esteticamente apresentável, a granjear amigos que apresentam qualidades morais adequadas, que sejam limpos, decentes, bem casados, pessoas bem resolvidas, que professem nossa fé e nos façam bem…. afinal, não queremos manchar nossa reputação. Duvido que reconheceríamos Jesus como Enviado de Deus, se o víssemos andando pelas estradas poeirentas da Judéia, pedindo um copo d’água à beira de um poço. Afinal, Isaías diz que ele:

 “não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo mas nenhuma beleza havia que nos agradasse, era desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Is 53.2-4).

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