domingo, 9 de dezembro de 2012

O GUARDA E O MENDIGO


Um policial e um mendigo se encontram. O que você acha que vai acontecer? O policial vai perguntar o que ele está fazendo sentado naquela calçada e vai expulsá-lo dali... Lógico, você pensa. O mendigo vai xingar o policial e será detido por desacato... Talvez sim. Apesar de essas probabilidades serem grandes, não foi o que aconteceu. E nem poderia.
Lawrence DePrimo tem 25 anos e é agente num posto de combate ao terrorismo em Nova Iorque, Estados Unidos. Numa noite de trabalho qualquer, talvez nada seria mais interessante para ele do que deparar-se com um mendigo à sua frente.
Andando pela Times Square, ele viu um homem sentado na calçada. Era um mendigo. Estava vestindo roupas rasgadas e sujas e carregando uma sacola com suas significativas coisas. Mas o que chamou a atenção daquele policial fardado foi o fato de ele estar calçado com duas meias e botas e o mendigo, descalço. Naquela noite fria demais, o mendigo estava descalço.
O policial sentiu o frio que aquele mendigo idoso estava sentindo nele mesmo. E com os pés rígidos e cheios de bolhas que não lhe aqueciam, o homem, embora pedinte, não pedia nada.
O policial trocou algumas palavras com ele e ambos seguiram. O mendigo, corroído pelo frio do clima, e pelo frio humano, só conseguiu andar porque se apoiava com o calcanhar. Os dois foram parar numa loja de sapatos.
O gesto de solidariedade do policial contaminou o responsável pela loja naquele dia, que cedeu o seu desconto especial de funcionário ao comprador gentil. E o preço do sapato caiu de 100 para 75 dólares.
Na volta para a calçada, o agente ajoelhou-se diante do mendigo para ajudá-lo a colocar as botas.
A turista que tirou a foto também fora contaminada, e foi ela quem publicou a imagem na página do Facebook do departAMEnto de polícia de Nova Iorque. O policial ficou famoso. E o mendigo, que após ver as botas, tão feliz ficou que teve o seu rosto iluminado.
Ele é o cavalheiro mais educado que conheci, disse O agente sobre o mendigo. Porque é quando saímos do nosso status e nos igualamos ao PRÓXIMO que temos a capacidade de compreender o que se passa em seus olhos. Em sua pele. Com seus sentimentos.
E o mendigo, tão acostumado a não ser visto nem ouvido; tão invisível diante de olhos focados; tão deixado para trás diante de pés apressados, nem respondeu à pergunta do policial sobre uma xícara de café que lhe oferecera. Calçou os pés e seguiu o seu caminho. Talvez também não tivesse escutado. Ou já estava cauterizado diante da surdez do mundo. Ou mudo perante a escassez das palavras. Alheias.

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